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Mostrando postagens de 2025

O Prêmio Nobel da Morte

O anúncio do Prêmio Nobel da Paz de 2025 , concedido à política venezuelana María Corina Machado , despertou uma onda de perplexidade e controvérsia em círculos acadêmicos, diplomáticos e jornalísticos. Ao laurear uma figura identificada com o discurso de “mudança de regime” e com apelos explícitos à intervenção estrangeira, o Comitê Norueguês do Nobel reforça a percepção de que a premiação — outrora símbolo de diplomacia moral — tornou-se um instrumento de legitimação geopolítica. O presente artigo propõe uma leitura crítica desse episódio, compreendendo-o como parte de um processo de reconfiguração simbólica do imperialismo contemporâneo , no qual a retórica da paz é instrumentalizada para sustentar projetos de dominação econômica e política na América do Sul. 1. O contexto político da laureada María Corina Machado, ex-deputada e uma das principais líderes opositoras ao governo venezuelano, consolidou-se como porta-voz de um liberalismo radical, alinhado aos interesses estratég...

O Brasil, o Dólar e o BRICS: Uma Nova Rota no Comércio Internacional?

O Brasil, o Dólar e o BRICS O Brasil, o Dólar e o BRICS: Uma Nova Rota no Comércio Internacional? Publicado em 21 de julho de 2025 Por Jorge Nunes 📌 Introdução Nos últimos dias, um intenso debate tomou conta dos grupos de conversa e redes sociais: o Brasil deveria continuar usando o dólar como principal moeda nas transações internacionais? Ou está na hora de caminhar com os países do BRICS para fortalecer moedas locais e reduzir a dependência da moeda americana? Neste post, vamos esclarecer os pontos centrais desse debate, com fontes, fatos históricos e análises de especialistas, explicando o que está em jogo nessa possível mudança de paradigma econômico. 💵 Por que o dólar domina o comércio internacional? O domínio do dólar vem desde o Acordo de Bretton Woods (1944) , que estabeleceu o dólar como principal moeda de referência internacional, atrelado ao ouro. Esse sistema acabou oficialmente em 1971, quando os EUA romperam a pa...

Carta Aberta: A Importância da Bomba Atômica Brasileira

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Translator   Vivemos um momento de crescente instabilidade na governança global. As instituições internacionais, outrora criadas para garantir equilíbrio e respeito às normas entre as nações, estão sendo frequentemente desacreditadas — muitas vezes, pelas próprias potências que as instituíram. A quebra recorrente das regras por parte das grandes potências ocidentais levanta uma reflexão inevitável: em um mundo cada vez mais volátil, quais ferramentas restam aos países do Sul Global para garantir sua soberania e segurança? O Brasil, maior nação da América do Sul em território, população e recursos natu...

A guerra dos 12 dias e o duplo padrão ocidental no Oriente Médio

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  Então acabou a guerra dos 12 dias. Foi assim que Donald Trump, com sua habitual concisão marqueteira, apelidou o recente conflito entre Israel e Irã — uma guerra breve, intensa e revestida de simbolismos. Mas, como de costume, o que menos aparece nas manchetes é o pano de fundo, o tabuleiro geopolítico onde se joga essa partida brutal. A mídia ocidental, sempre pronta a classificar o Irã como um “regime fundamentalista religioso”, esquece — ou escolhe esquecer — que Israel também é um Estado fundamentado na religião. A autodefinição de Israel como “Estado judeu” não é apenas cultural ou simbólica; ela tem implicações diretas na cidadania, na ocupação territorial e nos direitos civis de milhões de palestinos. A seletividade do discurso é tamanha que poucos lembram de outro episódio carregado de hipocrisia: a Guerra do Golfo de 1991. Naquele momento, os EUA mobilizaram uma coalizão internacional para expulsar Saddam Hussein do Kuwait — um país descrito pela imprensa como um “Esta...

A Voz Perdida de Elam – Um Hino ao Deus Inshushinak

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Um poema ancestral perdido entre as areias do tempo. Este videoclipe traz à vida o hino fictício de Untash-Napirisha , o grande rei do antigo Reino de Elam, uma civilização que floresceu por mais de 2.000 anos e hoje está quase esquecida. Inspirado em inscrições reais, ruínas arqueológicas e mitologia elamita, o vídeo mergulha em uma atmosfera épica, mística e solene — um alerta poético sobre a fragilidade de todas as civilizações. 🔥 Deus Inshushinak – Senhor dos Mortos 🏛️ Dur-Untash – A cidade sagrada 🕯️ Elam – A civilização esquecida Música composta com IA (Suno AI) Imagens e cenas geradas com IA (Pollo.ia + DALL·E) ✍️ Letra original baseada em reconstrução artística de inscrições reais 📜 “Que as gerações futuras saibam... os deuses caminharam entre os homens.”

A Falência Moral do Ocidente: Quando a “Ordem Internacional Baseada em Regras” Vira Piada

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  Parece que o Ocidente mergulhou de cabeça em uma espiral de destruição dos próprios valores que dizia defender. A chamada ordem internacional baseada em regras — frequentemente alardeada por Washington, Bruxelas e Tel Aviv — não passa, hoje, de uma ficção conveniente. Uma retórica seletiva que se aplica apenas aos “outros”. Enquanto isso, os Estados Unidos, a União Europeia e Israel se sentem confortáveis em quebrar essas regras sempre que é politicamente conveniente. Basta olhar para o que ocorreu recentemente: Israel lançou um ataque surpresa contra alvos iranianos em meio a negociações diplomáticas, um movimento que lembra mais o ataque japonês a Pearl Harbor do que uma nação comprometida com a paz. A justificativa? A mesma de sempre: "Israel tem o direito de se defender". Mas de quê, exatamente? Desde 1985 , Israel afirma que o Irã está a "dois anos" de produzir uma bomba atômica — o que nunca se concretizou. Enquanto isso, o Irã permanece como signatário d...

A Democracia Segundo o Ocidente: O Caso Irã e a Retórica da Guerra

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Hoje, diante das tensões crescentes entre Israel e Irã, a retórica dominante no Ocidente tende a pintar o Irã como a grande ameaça à democracia no Oriente Médio. É uma narrativa comum: na visão ocidental, democracia e direitos humanos são valores universais — mas sua aplicação parece seguir uma lógica profundamente seletiva, guiada mais por interesses estratégicos do que por princípios éticos. Basta uma rápida olhada no passado para entender a raiz desse paradoxo. Um exemplo emblemático é o golpe de 1953 no Irã, que derrubou o então primeiro-ministro Mohammad Mosaddegh , democraticamente eleito e defensor de uma política secular e nacionalista. Seu "erro"? Ter nacionalizado o petróleo iraniano, até então controlado por empresas britânicas, o que afetava diretamente os interesses econômicos do Reino Unido e dos Estados Unidos . Temendo a perda de influência na região e a disseminação do nacionalismo anticolonial, as potências ocidentais orquestraram uma intervenção clandest...

O fantasma do comunismo: de Marx à sua avó

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  Assistindo ao vídeo no YouTube “Por que sua tia tem medo do comunismo?” , produzido por Tiago Santineli — que pode ser acessado neste link — percebi um ponto crucial: há um sério problema na forma como a história tem sido comunicada. Apesar de ser advogado, Santineli presta um verdadeiro serviço à historiografia ao montar uma linha do tempo envolvente e provocativa, que nos leva a refletir sobre a construção da realidade capitalista. Ele escancara o absurdo de um sistema que faz as pessoas temerem a "opressão" de ganhar uma casa do Estado, mas celebrarem a "liberdade" de morar na rua. A construção da imagem do comunismo como algo maligno não é acidental. George Orwell, por exemplo, tornou-se um ícone dessa crítica distorcida — embora ele próprio fosse um socialista democrático. Em obras como 1984 e A Revolução dos Bichos , Orwell critica a burocracia autoritária do stalinismo, mas suas ideias foram apropriadas e manipuladas pelo Ocidente como um ataque genéric...

Trump, China e a Insensatez Americana: a hegemonia em xeque

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  Por mais de um século, os Estados Unidos foram o farol do capitalismo global, sustentando sua hegemonia sobre três pilares: poderio militar, supremacia econômica e a confiança quase inabalável na segurança dos seus títulos públicos. Essa confiança, no entanto, está sendo erodida — não apenas pelas mudanças geopolíticas do século XXI, mas, sobretudo, pelas escolhas internas dos próprios EUA. E ninguém encarna melhor essa marcha da insensatez do que Donald Trump. Ao colocar sua agenda personalista acima das instituições, Trump desorganiza não apenas a política americana, mas também afeta diretamente a economia global. O que mais preocupa os investidores hoje não é apenas a dívida dos EUA — que ultrapassou os US$ 34 trilhões em 2024 (segundo dados do U.S. Treasury ) — mas o risco político de um país que ameaça a própria democracia em nome de um projeto populista e autoritário. Pior: a segurança do dólar, moeda global de referência, não está mais totalmente nas mãos dos EUA. Hoje,...

O Mercado Contra a Democracia: Velhas Nobrezas em Novas Roupagens

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  Há algo profundamente disfuncional na relação entre o “mercado” e a democracia. Não me refiro aqui ao conceito abstrato de trocas econômicas, mas ao sistema financeiro, grandes investidores, rentistas e conglomerados que, sob o eufemismo de “mercado”, agem como se fossem a nova nobreza do Antigo Regime: exigem privilégios, acumulam poder e querem manter os pobres sob rédea curta. No Brasil, é cada vez mais comum a frase – com origem em redes sociais e rodas de boteco políticas – de que o “mercado”, liderado simbolicamente por figuras da Faria Lima, quer “enforcar os aposentados com as tripas dos pobres”. Forte? Sem dúvida. Mas quem observa o comportamento do mercado diante de pautas sociais básicas como o salário mínimo ou a Previdência percebe que há uma verdade incômoda aí. Recentemente, o governo federal foi pressionado a não aumentar o salário mínimo em linha com a inflação e o crescimento econômico. Mais grave ainda foi a tentativa de romper o vínculo constitucional entre ...

Os Desafios de Lula entre Indústria, Empregos e o Banco Central

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O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva se inicia sob condições bem distintas dos anos dourados do “Brasil que deu certo” entre 2003 e 2010. Se, naquela época, o boom das commodities ajudava a expandir o crédito, aumentar o emprego e dar impulso à indústria nacional, hoje Lula se vê obrigado a reinventar a roda em um cenário adverso: desindustrialização acelerada, uma economia global fragmentada e um Banco Central com autonomia formal e uma postura monetária hostil. Lula aposta, mais uma vez, em uma política industrial ativa para reverter a estagnação produtiva do país. O relançamento da Nova Indústria Brasil , com foco em transição energética, saúde, agroindústria, defesa e tecnologia da informação, é uma tentativa ambiciosa de colocar o país novamente na trilha do desenvolvimento. Mas essa tentativa esbarra em um problema estrutural: como impulsionar investimentos, gerar empregos e promover inovação com juros reais entre os mais altos do mundo? Desde que assumiu, o presiden...

Trump, a Economia dos EUA e a Segurança dos Títulos Americanos

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  Na atual conjuntura, a eleição de Donald Trump ao poder representa sérios riscos à economia dos EUA e à confiança global no dólar. Entre os impactos mais preocupantes está o enfraquecimento da segurança dos títulos do Tesouro americano, amplamente mantidos por investidores estrangeiros — sobretudo China e Japão. 1. Quem detém hoje os títulos dos EUA? Em dezembro de 2024, Japão e China reduziram suas posições em títulos americanos: Japão diminuiu de US $ 1,087 tri para US $ 1,060 tri; China caiu de US $ 768,6 bi para US $ 759 bi reddit.com +10 investing.com +10 economictimes.indiatimes.com +10 . Dados do Tesouro americano confirmam que, em janeiro de 2025, o Japão detinha cerca de US $ 1,079 tri, e a China US $ 760 bi . Esses dois países continuam como principais credores externos dos EUA, reforçando que a "segurança do dólar" hoje está em mãos estrangeiras—um cenário que torna Washington vulnerável. 2. O Japão da década de 1980: um exemplo de submissã...