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Mostrando postagens de 2025

Título: A Democracia Segundo o Ocidente: O Caso Irã e a Retórica da Guerra

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Hoje, diante das tensões crescentes entre Israel e Irã, a retórica dominante no Ocidente tende a pintar o Irã como a grande ameaça à democracia no Oriente Médio. É uma narrativa comum: na visão ocidental, democracia e direitos humanos são valores universais — mas sua aplicação parece seguir uma lógica profundamente seletiva, guiada mais por interesses estratégicos do que por princípios éticos. Basta uma rápida olhada no passado para entender a raiz desse paradoxo. Um exemplo emblemático é o golpe de 1953 no Irã, que derrubou o então primeiro-ministro Mohammad Mosaddegh , democraticamente eleito e defensor de uma política secular e nacionalista. Seu "erro"? Ter nacionalizado o petróleo iraniano, até então controlado por empresas britânicas, o que afetava diretamente os interesses econômicos do Reino Unido e dos Estados Unidos . Temendo a perda de influência na região e a disseminação do nacionalismo anticolonial, as potências ocidentais orquestraram uma intervenção clandest...

O fantasma do comunismo: de Marx à sua avó

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  Assistindo ao vídeo no YouTube “Por que sua tia tem medo do comunismo?” , produzido por Tiago Santineli — que pode ser acessado neste link — percebi um ponto crucial: há um sério problema na forma como a história tem sido comunicada. Apesar de ser advogado, Santineli presta um verdadeiro serviço à historiografia ao montar uma linha do tempo envolvente e provocativa, que nos leva a refletir sobre a construção da realidade capitalista. Ele escancara o absurdo de um sistema que faz as pessoas temerem a "opressão" de ganhar uma casa do Estado, mas celebrarem a "liberdade" de morar na rua. A construção da imagem do comunismo como algo maligno não é acidental. George Orwell, por exemplo, tornou-se um ícone dessa crítica distorcida — embora ele próprio fosse um socialista democrático. Em obras como 1984 e A Revolução dos Bichos , Orwell critica a burocracia autoritária do stalinismo, mas suas ideias foram apropriadas e manipuladas pelo Ocidente como um ataque genéric...

Trump, China e a Insensatez Americana: a hegemonia em xeque

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  Por mais de um século, os Estados Unidos foram o farol do capitalismo global, sustentando sua hegemonia sobre três pilares: poderio militar, supremacia econômica e a confiança quase inabalável na segurança dos seus títulos públicos. Essa confiança, no entanto, está sendo erodida — não apenas pelas mudanças geopolíticas do século XXI, mas, sobretudo, pelas escolhas internas dos próprios EUA. E ninguém encarna melhor essa marcha da insensatez do que Donald Trump. Ao colocar sua agenda personalista acima das instituições, Trump desorganiza não apenas a política americana, mas também afeta diretamente a economia global. O que mais preocupa os investidores hoje não é apenas a dívida dos EUA — que ultrapassou os US$ 34 trilhões em 2024 (segundo dados do U.S. Treasury ) — mas o risco político de um país que ameaça a própria democracia em nome de um projeto populista e autoritário. Pior: a segurança do dólar, moeda global de referência, não está mais totalmente nas mãos dos EUA. Hoje,...

O Mercado Contra a Democracia: Velhas Nobrezas em Novas Roupagens

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  Há algo profundamente disfuncional na relação entre o “mercado” e a democracia. Não me refiro aqui ao conceito abstrato de trocas econômicas, mas ao sistema financeiro, grandes investidores, rentistas e conglomerados que, sob o eufemismo de “mercado”, agem como se fossem a nova nobreza do Antigo Regime: exigem privilégios, acumulam poder e querem manter os pobres sob rédea curta. No Brasil, é cada vez mais comum a frase – com origem em redes sociais e rodas de boteco políticas – de que o “mercado”, liderado simbolicamente por figuras da Faria Lima, quer “enforcar os aposentados com as tripas dos pobres”. Forte? Sem dúvida. Mas quem observa o comportamento do mercado diante de pautas sociais básicas como o salário mínimo ou a Previdência percebe que há uma verdade incômoda aí. Recentemente, o governo federal foi pressionado a não aumentar o salário mínimo em linha com a inflação e o crescimento econômico. Mais grave ainda foi a tentativa de romper o vínculo constitucional entre ...

Coluna: Os Desafios de Lula entre Indústria, Empregos e o Banco Central

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O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva se inicia sob condições bem distintas dos anos dourados do “Brasil que deu certo” entre 2003 e 2010. Se, naquela época, o boom das commodities ajudava a expandir o crédito, aumentar o emprego e dar impulso à indústria nacional, hoje Lula se vê obrigado a reinventar a roda em um cenário adverso: desindustrialização acelerada, uma economia global fragmentada e um Banco Central com autonomia formal e uma postura monetária hostil. Lula aposta, mais uma vez, em uma política industrial ativa para reverter a estagnação produtiva do país. O relançamento da Nova Indústria Brasil , com foco em transição energética, saúde, agroindústria, defesa e tecnologia da informação, é uma tentativa ambiciosa de colocar o país novamente na trilha do desenvolvimento. Mas essa tentativa esbarra em um problema estrutural: como impulsionar investimentos, gerar empregos e promover inovação com juros reais entre os mais altos do mundo? Desde que assumiu, o presiden...

Trump, a Economia dos EUA e a Segurança dos Títulos Americanos

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  Na atual conjuntura, a eleição de Donald Trump ao poder representa sérios riscos à economia dos EUA e à confiança global no dólar. Entre os impactos mais preocupantes está o enfraquecimento da segurança dos títulos do Tesouro americano, amplamente mantidos por investidores estrangeiros — sobretudo China e Japão. 1. Quem detém hoje os títulos dos EUA? Em dezembro de 2024, Japão e China reduziram suas posições em títulos americanos: Japão diminuiu de US $ 1,087 tri para US $ 1,060 tri; China caiu de US $ 768,6 bi para US $ 759 bi reddit.com +10 investing.com +10 economictimes.indiatimes.com +10 . Dados do Tesouro americano confirmam que, em janeiro de 2025, o Japão detinha cerca de US $ 1,079 tri, e a China US $ 760 bi . Esses dois países continuam como principais credores externos dos EUA, reforçando que a "segurança do dólar" hoje está em mãos estrangeiras—um cenário que torna Washington vulnerável. 2. O Japão da década de 1980: um exemplo de submissã...

EVOLUÇÃO DO VOO EM INVERTEBRADOS

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A Guerra Política Já Começou: O Brasil e o Risco de Repetir o Caminho dos EUA

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  O Brasil entrou, ainda em 2025, em um novo ciclo de polarização extrema. A campanha presidencial de 2026 já começou, com ataques sistemáticos às instituições democráticas, à imprensa livre, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao próprio pacto civilizatório que sustenta a República. De um lado, temos o campo democrático que, por mais fragmentado e frágil que esteja, ainda se organiza em torno do presidente Lula — que, aos 81 anos em 2026, representará talvez a última figura com capital político e histórico para tentar segurar uma nova onda autoritária. De outro lado, uma coalizão cada vez mais radicalizada, que envolve interesses do mercado financeiro, grupos de mídia simpáticos ao liberalismo econômico desenfreado, milícias digitais organizadas e apoiadas por Big Techs, e redes articuladas de desinformação. Um Brasil à Beira de Repetir os EUA de Trump A situação remete perigosamente ao que vimos nos Estados Unidos. Donald Trump foi reeleito em 2024 e, desde então, intensific...

Vestígios na areia do tempo

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  Recentemente, criei uma imagem com a ajuda da inteligência artificial — uma cena fantástica onde um tricerátop era montado por um siluriano , um ser hipotético de uma civilização avançada da era dos dinossauros. A imagem mostrava selas cuidadosamente ajustadas ao animal, o siluriano vestindo algo como uma armadura policial futurista, e ao fundo, uma cidade de arquitetura avançada fundida com a natureza jurássica. Infelizmente, a imagem foi perdida . Sem backup, sem registros. Um pequeno detalhe que me fez refletir sobre algo maior: como nossa civilização lida com o tempo, com a memória e com o esquecimento . E este tema fica voltando em minha cabeça, já escrevi acho que duas vezes sobre o mesmo tema e menos de dois meses, trabalhando em visões diferentes. Pois algo me escapa na conclusão do texto no capacidade de desenvolver a idade.  Civilizações Digitais, Rastros Efêmeros Vivemos em uma era digital. Mas nossos rastros são frágeis . Os dados que geramos todos os dias —...

O Brasil Depois do Impeachment: O Que Eu Já Enxergava em 2016

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Em 2016, escrevi um ensaio que hoje, com o distanciamento do tempo, vejo que se confirmou em muitos pontos. A única surpresa — e talvez a mais amarga — foi a ascensão meteórica de Jair Bolsonaro e da extrema-direita, que enterrou de vez o debate racional na política brasileira. O processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff nunca foi acompanhado de um plano para o dia seguinte. A movimentação que levou à sua deposição foi marcada mais por interesses político-partidários e econômicos do que por um real desejo de melhoria institucional. Como bem apontou a jornalista Eliane Brum , “não foi por um país melhor, mas por poder”. Mídia, elites e o silêncio sobre o ‘plano B’ As grandes redes de mídia, como a Rede Globo, deram suporte ativo ao impeachment, cobrindo manifestações seletivamente e omitindo os efeitos nocivos da ruptura institucional. Isso ficou claro no editorial do jornal O Globo de 2016, que defendia a "saída institucional de Dilma" mas sem qualquer questio...

Democracia: A Gente Ainda Vai Ter Que Lutar Muito

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  Falar em democracia no Brasil virou quase um ato de resistência. Ela está de pé, mas cambaleando. E não é de hoje. Democracia de verdade não é só votar a cada dois anos. É garantir que todos tenham direitos respeitados, que ninguém seja tratado como cidadão de segunda classe por causa da cor da pele, da conta bancária ou do lugar onde nasceu. E nisso, estamos falhando feio. A internet, que poderia ser espaço de troca e aprendizado, virou terreno dominado por desinformação. Fake news correm soltas, alimentadas por grupos extremistas que não têm nenhum compromisso com a verdade — e muito menos com o país. Sem regulação, o debate público vira gritaria, ...