Trump, a Economia dos EUA e a Segurança dos Títulos Americanos

 



Na atual conjuntura, a eleição de Donald Trump ao poder representa sérios riscos à economia dos EUA e à confiança global no dólar. Entre os impactos mais preocupantes está o enfraquecimento da segurança dos títulos do Tesouro americano, amplamente mantidos por investidores estrangeiros — sobretudo China e Japão.

1. Quem detém hoje os títulos dos EUA?

  • Em dezembro de 2024, Japão e China reduziram suas posições em títulos americanos:

  • Dados do Tesouro americano confirmam que, em janeiro de 2025, o Japão detinha cerca de US $ 1,079 tri, e a China US $ 760 bi .

Esses dois países continuam como principais credores externos dos EUA, reforçando que a "segurança do dólar" hoje está em mãos estrangeiras—um cenário que torna Washington vulnerável.

2. O Japão da década de 1980: um exemplo de submissão econômica

Nos anos 1980, o Japão foi pressionado pelos EUA a valorizar o iene e reduzir superávits comerciais, em favor do dólar. Isso arrasou seu setor industrial e atrasou o desenvolvimento doméstico. Posteriormente, o Japão, mesmo economicamente mais frágil, acabou apoiando políticas americanas, fortalecendo a hegemonia do dólar.

3. A China é diferente

A China é um adversário mais complexo:

  • Econômico e militar: como a URSS, mas com poder de produção e rede global;

  • Resiliente: não cederá a chantagens como o Japão fez;

  • Reservas robustas: US $ 3,28 tri em reservas cambiais, das quais 25–60% estão em dólar en.wikipedia.org.

O país tem argumentos para resistir — e investir em alternativas como ouro, ienes ou euro, diversificando seus ativos .

4. Trump e o enfraquecimento econômico interno

Diversos indicadores apontam que as políticas de Trump não estão reerguendo a base industrial americana:

  • Crescimento econômico esperado em torno de 1,5–1,6% nos próximos anos, segundo a OCDE — abaixo do potencial real ft.com.

  • Marginal recuperação de investimento, promessa made in Trump, mas que permanece transparente, segundo o FT: US $ 6 tri parecem ser “promessas infladas” ft.com.

  • Tarifas protecionistas estão pressionando a inflação e diminuindo a confiança das empresas .

O resultado: dólar enfraquecido (queda de 9%), fuga de capitais e risco de substituição da moeda de reserva vox.com.

5. Educação e desindustrialização: o cerne do declínio

Desde Ronald Reagan, os EUA passaram por:

  • Financeirização crescente em detrimento da indústria;

  • Desmonte do investimento escolar, reduzindo a preparação técnica da força de trabalho;

  • Trump agrava essa tendência: reforça a gestão dos sistemas educacionais sob governos estaduais conservadores, que frequentemente protegem interesses ideológicos privados.

Isso impacta diretamente a capacidade de inovação e produção — base para manter superpotência global.

6. O verdadeiro “MAGA”: social-democracia e investimentos estruturais

Para superar a crise, os EUA precisariam de um modelo próximo ao:

  • Franklin D. Roosevelt ou de uma liderança como Lula, combinando:

    1. Investimentos massivos em infraestrutura (trem-bala, saneamento, habitação),

    2. Reforma tributária progressiva,

    3. Reforço do ensino público (ciências, tecnologia, vocacional),

    4. Parcerias público-privadas com foco no emprego.

Não esperaríamos isso de Trump. Seu MAGA é retórico, sem base em políticas estruturais de longo prazo. O real "Make America Great Again" exigiria transformação — social-democrática, democrática, sustentável.


👍 Conclusão

Trump, ao jogar com ideias protecionistas, cortes de impostos, controle sobre a educação e ataque à globalização, não reconstituirá a base econômica industrial dos EUA, enfraquecendo a liderança do país. A hegemonia americana se baseia na confiança no dólar, e essa confiança está hoje nas mãos de gigantes como China e Japão — que têm opções de diversificação à disposição.

Os EUA precisam de um programa nacional robusto: infraestrutura, educação e redistribuição de renda. A rigidez ideológica e o desmantelamento institucional das últimas décadas pavimentam a crise. Sem uma agenda ambiciosa de social-democracia, o país corre risco real de estagnação prolongada e perda de centralidade global.


Fontes principais

  • Reuters (fev. 2025): redução japonesa e chinesa em dívida dos EUA ft.com

  • Dados do Tesouro americano (jan. 2025): posições bilionárias

  • OCDE & OECD Warning on Trump’s tariffs time.com+1apnews.com+1

  • Financial Times: promessa de US $ 10 tri inflada

  • Vox & AP News: impacto negativo de tarifas apnews.com

  • Wikipédia/TCJA: impactos fiscais da era Trump en.wikipedia.org

  • CEIC/Wikipedia: reservas cambiais da China ceicdata.com

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