A Invasão do Bolsonarismo nas Redes Profissionais: O LinkedIn sob Ataque

 



Nos últimos meses, tenho observado com preocupação a proliferação de comentários bolsonaristas em publicações no LinkedIn que não têm qualquer relação direta com política. Trata-se de uma apropriação de um espaço originalmente voltado ao debate profissional e técnico, transformando-o em um palco para ataques políticos rasteiros e repetitivos — especialmente contra o presidente Lula, seu partido e as instituições democráticas brasileiras.

Esses comentários geralmente seguem um padrão: atacam o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e outras instituições republicanas, ao mesmo tempo em que defendem um moralismo genérico, muitas vezes hipócrita. São replicações contínuas dos mesmos memes, frases de efeito e teorias conspiratórias, como se fizessem parte de uma operação coordenada. Não posso afirmar que sejam comentários pagos — mas tampouco me surpreenderia se fossem.

Essa lógica de atuação não é inédita. Nos Estados Unidos, um movimento semelhante — impulsionado por redes de desinformação, bots e influenciadores digitais extremistas — foi fundamental para a eleição de Donald Trump em 2016. O trumpismo não apenas dividiu o país de forma inédita, como também corroeu sua credibilidade institucional, esvaziou a política de conteúdo, e contribuiu para a estagnação econômica e a degradação da infraestrutura pública. É claro que Trump não é o único culpado: os EUA já vinham adotando uma agenda autodestrutiva desde o Vietnã e a Guerra Fria, priorizando gastos militares trilionários em vez de investir em educação, saúde e mobilidade urbana. Mas isso é tema para outro texto.

Voltando ao Brasil, é fundamental denunciar a hipocrisia dos que se autointitulam representantes da "nova política" ou "direita moralista". Sob o verniz de valores conservadores, muitos desses grupos governam estados e municípios onde se multiplicam escândalos de corrupção. Basta lembrar:

  • A privatização da SABESP pelo governo Tarcísio de Freitas em São Paulo, realizada com valores abaixo do mercado e sem o devido debate público.

  • A prisão de 19 prefeitos bolsonaristas em Santa Catarina por esquemas de corrupção.

  • A condução política do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, ambos comandados por forças alinhadas à extrema-direita, com histórico de escândalos e má gestão.

Esses casos não ganham o mesmo destaque nas redes bolsonaristas — o que evidencia que seu moralismo é seletivo e oportunista. A lógica é simples: atacar o PT e Lula com qualquer narrativa disponível, ainda que se baseiem em fake news, boatos ou distorções grosseiras da realidade.

O problema é ainda mais grave quando esse tipo de retórica passa a ocupar o LinkedIn, um espaço onde a troca de conhecimento, experiência e propostas construtivas deveria prevalecer. Ao invés de contribuir com soluções para o país, esses usuários agem como agentes de corrosão do debate público, replicando slogans vazios, desinformação e discursos de ódio.

A democracia brasileira está sob constante ataque — e não se trata apenas de ameaças formais a instituições, mas também da ocupação sistemática dos espaços públicos de fala, contaminando até mesmo ambientes profissionais. Isso exige atenção, denúncia e resistência.

Como cidadãos conscientes, temos o dever de reconhecer que a radicalização digital não é apenas um "debate acalorado": é parte de uma estratégia de poder baseada na destruição do diálogo, da ciência e da política como instrumento de transformação social.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Democracia: A Gente Ainda Vai Ter Que Lutar Muito

Depoimentos de fim de ano 2006

A Marcha da Insensatez: Como a Elite Está Jogando o Brasil no Abismo Democrático