📰 O Colapso Anunciado: Como os EUA Caminham Para Virar uma “Argentina Global”
A crise que ninguém quer ver — e que pode arrastar o mundo junto
“Quando um império se recusa a enxergar seus próprios erros, seu declínio deixa de ser uma possibilidade e se torna uma contagem regressiva.”
Washington, 2025. O último bastião da ilusão de estabilidade dos Estados Unidos acaba de ruir: a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito soberano do país para AA1. A ação segue os rebaixamentos anteriores da S&P (2011) e da Fitch (2023). O recado é claro: a maior economia do planeta, por trás de seu poderio militar e do dólar, está à beira de uma crise fiscal sistêmica.
Desde 2001, os EUA não conseguem fechar suas contas. São 24 anos ininterruptos de déficits orçamentários, com uma dívida que já ultrapassa 98% do PIB e deve alcançar 134% até 2035. Os juros dessa dívida consomem quase 30% de toda a arrecadação federal. O tamanho do rombo não é mais apenas uma estatística — é um prenúncio.
A Semelhança Inconveniente: EUA x Argentina
À primeira vista, a comparação pode soar absurda. Mas olhe com calma: ambos os países mascararam suas crises fiscais com moedas fortes. A Argentina com sua antiga paridade ao dólar nos anos 1990. Os EUA com o próprio dólar — mas até esse pilar começa a tremer.
Segundo dados do Tesouro americano e do Fundo Monetário Internacional (FMI), os EUA acumulam déficits fiscais acima de 6% do PIB há mais de uma década, algo comum em países em crise profunda, como... Argentina. A diferença? Os EUA ainda emitem a moeda global. Mas até quando?
O Dólar Está Perdendo Força
O dólar, chamado por muitos economistas de “privilégio exorbitante” (termo cunhado por Valéry Giscard d’Estaing), ainda sustenta o império. Mas esse monopólio está sendo corroído por:
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Desdolarização: Países como China, Rússia e até Arábia Saudita estão abandonando o dólar em reservas e comércio.
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Guerras comerciais: As tarifas e sanções iniciadas sob Donald Trump aceleraram o colapso da confiança no dólar como ativo neutro.
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Fuga de Treasuries: Títulos do Tesouro de 30 anos já passam de 5% de juros ao ano, um sinal claro de que investidores estão precificando risco.
Scott Bessent, ex-chefe de investimentos do fundo de George Soros, alerta:
“Os números da dívida são assustadores. Uma crise pode significar o desaparecimento súbito do crédito americano.”
O Sistema Político é Parte do Problema
Os EUA têm um sistema político que dificulta a solução de problemas:
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Representação distorcida: A supressão de votos, o Gerrymandering (manipulação de distritos eleitorais) e o sistema bipartidário impedem que os mais afetados — pobres e minorias — tenham voz.
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Polarização institucionalizada: O Congresso está travado há mais de uma década, incapaz de aprovar qualquer reforma fiscal robusta.
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Judiciário capturado: A Suprema Corte tem agido como um braço de interesses corporativos, desregulando financiamento eleitoral e protegendo bilionários.
Uma Sociedade Desinformada e Incapaz de Reagir
Enquanto o país enfrenta sua maior crise estrutural desde 1929, boa parte da sociedade americana debate teorias da conspiração, como “genocídio branco” e antivacinas. A mídia corporativa falhou. As redes sociais, como Twitter/X, Facebook e YouTube, alimentam bolhas que radicalizam o debate e inviabilizam qualquer saída coletiva.
Essa crise de percepção já foi denunciada:
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Naomi Klein, em A Doutrina do Choque (2007), explicou como o medo é instrumentalizado para aprofundar o neoliberalismo.
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Isabel Wilkerson, em Casta, mostrou como o sistema americano está fundado em hierarquias rígidas que perpetuam a desigualdade.
A série The Newsroom (HBO) tentou gritar esse alerta, mas caiu no maniqueísmo típico da indústria do entretenimento americano. Ainda assim, a fala inicial do protagonista — sobre os EUA não serem mais “o melhor país do mundo” — ecoa como profecia.
E o Resto do Mundo?
O planeta inteiro está conectado à economia americana. Se os EUA quebrarem, o mundo sentirá. Entre os impactos imediatos:
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Alta dos juros globais, com mercados fugindo de Treasuries.
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Estagnação mundial, com o FMI já prevendo um crescimento de apenas 2,8% em 2025.
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Ascensão de autocracias, com populistas surfando na onda do caos — já visível na Europa e América Latina.
Existe Esperança?
Sim, mas ela é improvável sob o modelo atual. As reformas que poderiam evitar o pior incluem:
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Reforma eleitoral profunda, com fim da manipulação de distritos e do colégio eleitoral.
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Tributação progressiva sobre grandes fortunas e revisão urgente do orçamento militar.
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Regulação das big techs e combate à desinformação algorítmica.
Como escreveu o The Wall Street Journal, o rebaixamento da Moody’s pode ser o “primeiro sinal de uma erosão irreversível” da confiança no império americano.
Conclusão: Um Trem Sem Freios
A crise americana não é só econômica — é estrutural, política, informacional e moral. E como um trem desgovernado, o mundo assiste à trajetória de colisão em câmera lenta, torcendo para que haja um freio de emergência.
Se os EUA caírem, o Ocidente todo poderá mergulhar em um ciclo de recessão, instabilidade e autoritarismo. Se sobreviverem, talvez renasçam mais fortes — com mais justiça social, mais democracia real e menos ilusão imperial.
Mas o tempo está acabando.
📊 Fontes e Referências:
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CBO – Congressional Budget Office (2024)
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The Economist, "The Dollar is Losing Ground" (2024)
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IMF World Economic Outlook (2025)
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Bloomberg – US Treasury Yields Exceed 5% (2025)
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Naomi Klein – The Shock Doctrine (2007)
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Isabel Wilkerson – Caste (2020)
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Moody’s Rebaixamento EUA – WSJ (2025)
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