Lula na Rússia e na China: Democracia, Hipocrisia e o Fim da Ilusão Ocidental
A presença de Lula no dia 9 de maio em Moscou, celebrando a vitória soviética contra o nazismo, e logo depois em Pequim, reforça uma mensagem simbólica e estratégica. Mais que encontros bilaterais, essas visitas representam um gesto político em um mundo cada vez mais multipolar — e desmascaram a hipocrisia dos que se arrogam representantes únicos da "democracia".
A imprensa ocidental — e seus repetidores automáticos no Brasil — apressa-se em rotular China e Rússia como inimigas da democracia. Mas a pergunta central não é essa: quem, hoje, representa de fato a democracia?
A História Tem Memória
A Rússia atual, mesmo sob os limites autoritários de seu sistema, é mais democrática que o Império dos Czares — onde não havia eleições, nem imprensa, nem partidos, nem sindicatos, nem cidadania para a maioria. A União Soviética, com todas as suas contradições, ampliou direitos, alfabetizou milhões e deu voz a povos que sequer existiam juridicamente antes de 1917. O mesmo vale para a China: hoje, apesar do sistema de partido único, a população tem níveis de bem-estar, mobilidade social e participação local que eram impensáveis nos tempos do império feudal.
Democracia não é só voto: é soberania, justiça social e dignidade material.
Democracias Ocidentais: Um Espelho Quebrado
Enquanto isso, o Ocidente vive de narrativas frágeis. Os Estados Unidos seguem com um sistema eleitoral distrital profundamente excludente, onde votos de milhões de eleitores valem menos que os de outros. As eleições são dominadas por bilionários e corporações. O Japão tem um único partido dominante há quase 70 anos. A França, que prega os valores da Revolução de 1789, mantém um império informal na África, sustentando ditaduras e explorando recursos naturais sob verniz democrático.
No Reino Unido, há crises sociais profundas ignoradas pelo governo em nome de gastos militares crescentes. Na Alemanha, o povo paga a conta do corte de gás russo para sustentar uma guerra que não é sua. O resultado? Inflação, recessão, e a crescente perda de legitimidade da política tradicional.
E o que dizer da "Ordem Internacional baseada em regras", conceito defendido com fervor por Washington e Bruxelas, mas que só vale quando favorece seus interesses geopolíticos?
A "Democracia" como Rótulo de Conveniência
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Quando uma eleição é vencida por um aliado dos EUA, mesmo que fraudulenta (como no Equador), o silêncio reina.
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Quando um processo democrático resulta na vitória de forças populares (como na Bolívia, Venezuela ou Honduras), a gritaria pela "restauração da democracia" aparece — muitas vezes seguida de sanções ou golpes patrocinados.
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Recentemente, a União Europeia interferiu abertamente na eleição romena para impedir a vitória de um candidato anti-guerra.
Ou seja: o Ocidente define o que é democracia conforme seus interesses.
Lula e o Direito à Soberania
Lula ir à Rússia e à China não é uma traição à democracia — é um ato de soberania nacional. É a recusa em aceitar que apenas alguns países possam decidir o que é certo e errado no mundo. É lembrar que há outras formas de organização social, outros caminhos de desenvolvimento, outras vozes além do eixo EUA-OTAN.
Ao visitar Moscou no 9 de maio, Lula homenageia os mais de 20 milhões de soviéticos mortos na luta contra o nazismo — algo que nunca será lembrado com honestidade pela mídia ocidental, que prefere reescrever a Segunda Guerra como um triunfo exclusivo do Ocidente.
Ao ir à China, Lula reafirma o papel do Brasil como país soberano que busca parceiros que respeitem sua autonomia — e que estão dispostos a falar de infraestrutura, ciência, comércio e paz, não de moralismo vazio e sanções unilaterais.
Democracia Real ou Fantasia de Elite?
O conceito de democracia precisa urgentemente ser descolonizado. Não pode ser monopólio de países com histórico de escravidão, colonialismo, guerras ilegais e golpes de Estado pelo mundo.
Lula não está "escolhendo ditadores", como dizem. Ele está construindo uma política externa que reflita os interesses do Brasil, não os desejos de Washington, Paris ou Londres. E talvez por isso seja tão atacado: porque ousa romper o roteiro.
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