Fake News e o Naufrágio da Democracia Ocidental
Vivemos uma era em que a política deixou de ser um espaço de debates sobre propostas e soluções para os problemas reais da sociedade. A ascensão do bolsonarismo no Brasil e o trumpismo nos Estados Unidos são apenas faces locais de uma crise mais profunda: a corrosão da democracia pelas fake news e pela manipulação algorítmica das redes sociais.
Esse não é um problema exclusivo do Brasil. As duas maiores democracias do Ocidente — Brasil e EUA — estão sendo colocadas em xeque. A política tornou-se refém de escândalos fabricados, distorções ideológicas e uma guerra contínua por cliques e curtidas. Enquanto isso, temas centrais como saúde pública, educação, previdência social e infraestrutura são negligenciados.
Veja o caso recente: ao invés de discutirmos os impactos de R$ 27 bilhões em investimentos diretos no Brasil anunciados durante a visita presidencial à China, o foco foi desviado para comentários da primeira-dama Janja — irrelevantes do ponto de vista econômico, mas altamente virais nas redes. Essa escolha do que importa é intencional, estratégica e profundamente destrutiva.
A oposição exige a instauração de uma CPI do INSS, mas apenas a partir de 2023. Ou seja, não se trata de investigar ou punir irregularidades, mas de criar material midiático — vídeos curtos para TikTok, recortes para redes, trechos que viralizem. A função pública está sendo distorcida para alimentar um espetáculo fútil.
O que resta da política hoje é um teatro vazio, onde pouco se debate e quase nada se constrói. Tudo isso ocorre enquanto potências como China e Rússia seguem agendas políticas de longo prazo — estáveis, planejadas, focadas em interesses nacionais. No Ocidente, vemos democracias naufragando, não por falhas intrínsecas do sistema democrático, mas pela usurpação deste sistema por interesses privados, muitas vezes ligados a big techs e grupos financeiros internacionais.
Essas corporações, por meio de seus algoritmos, amplificam desinformação, exploram radicalismos e priorizam engajamento a qualquer custo — mesmo que isso signifique alimentar teorias conspiratórias, ódio e desconfiança nas instituições. O resultado? Uma população desorientada, descrente, sem acesso à informação confiável e sem espaço para debater soluções reais.
A situação é ainda mais grave na Europa: a Alemanha está prestes a formar o maior exército da região, não por desejo popular, mas para satisfazer interesses geopolíticos que vêm de fora de suas fronteiras — interesses que sacrificam o bem-estar do povo em nome de uma guerra interminável e lucrativa.
No Brasil, qualquer tentativa de regulamentar as redes sociais é imediatamente sabotada por grupos de extrema-direita que dependem da desinformação para sobreviver politicamente — e que contam com a complacência, ou a omissão, de empresas de tecnologia e da velha mídia, que ainda não compreenderam a gravidade do momento histórico.
Estamos presos em uma engrenagem que empurra a sociedade para trás. Não temos propostas, não temos espaço para o debate real, não temos sequer clareza sobre o que está sendo discutido. É como se o Ocidente estivesse flertando com uma nova Idade Média — uma era de ignorância planejada, de poder concentrado nas mãos de poucos, de massas famintas e abandonadas.
Talvez a resposta venha de baixo, de uma revolta dos que foram deixados à margem, dos que não têm mais nada a perder. Ou talvez não. Mas uma coisa é certa: se não enfrentarmos de forma séria e urgente o problema da desinformação — e de como ela destrói a democracia por dentro —, estaremos condenados a assistir à lenta morte de tudo o que construímos como sociedade moderna.
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