Brutalidade, Estupidez e o Fio Frágil da Democracia Brasileira
"O Brasil de 2025 é um país que respira sob o peso de suas próprias contradições. A democracia, ainda de pé, mantém-se por um fio — sustentada não por instituições robustas, mas pela resistência obstinada de um homem e de um projeto político permanentemente sitiado. Lula, símbolo de redenção para uns e de ódio visceral para outros, carrega sozinho o fardo de evitar o colapso total, enquanto as forças que tentaram enterrá-lo seguem vivas, agora mais perigosas: armadas com fake news, lawfare e uma máquina de desumanização em escala industrial.*
Vivemos sob a lógica cruel de impérios em decadência, onde a elite prefere a repressão à reforma, o encarceramento em massa à justiça social, e o espetáculo da violência à construção de soluções reais. O Judiciário, que deveria ser guardião da Constituição, transformou-se em arma política; a mídia, em palco de histeria seletiva; e as redes sociais, em território de sadismo normalizado. Enquanto isso, a democracia definha, não por falta de avisos, mas por excesso de cinismo.
Este texto não é um lamento. É um alerta. O Brasil já conhece o rosto do autoritarismo — e ele não vem de farda, mas de terno e toga, de algoritmos e manchetes, de uma engrenagem que moe pobres, negros e periféricos enquanto aplaude a própria destruição. A pergunta que fica é: há tempo para frear essa queda, ou já nos acostumamos demais ao abismo?"
Vivemos hoje, em 2025, um momento em que a democracia brasileira parece respirar por aparelhos, ainda sustentada por uma única figura que resistiu ao colapso institucional: Lula. Sua volta ao poder, após a brutal perseguição judicial, simbolizou uma reviravolta histórica. Mas o que deveria ser a refundação da confiança democrática se tornou uma sobrecarga sobre um indivíduo e um partido – o PT – permanentemente atacado por redes de desinformação profissionalizadas.
As forças antidemocráticas continuam não só vivas, mas organizadas, com domínio tático e tecnológico da guerra de narrativas via fake news, aplicativos de mensagem e influencers pagos com verba pública oculta. Se antes se dizia que a mentira corria o mundo antes que a verdade calçasse os sapatos, agora a mentira tem exército, orçamento e estratégia.
O Brasil atual parece operar sob uma lógica semelhante à do Império Romano em colapso: a elite, indiferente ao sofrimento da plebe, aposta todas as fichas na repressão, na brutalidade, no encarceramento em massa e na desinformação, como se fosse possível governar um país continental com base em ódio e castigo.
A lógica de "bandido bom é bandido morto", promovida por redes de TV, youtubers reacionários e políticos oportunistas, criou uma sociedade paranoica e violenta, onde parte significativa da população enxerga na brutalidade do Estado um remédio para problemas estruturais – ignorando que os alvos principais são, na maioria, pobres, negros, e moradores das periferias. É a repetição exata do colapso das grandes estruturas imperiais: a crença de que a força basta onde a razão falhou.
Assim como Nicolau II se recusou a aceitar uma constituição, o Judiciário brasileiro contemporâneo, em especial na Lava Jato, rasgou os próprios ritos, abandonou a imparcialidade e se tornou ator político. A prisão de Lula, com base em delações sem provas materiais, foi o marco inaugural da transformação do Ministério Público e do Judiciário em instrumentos de guerra política.
Mesmo após todas as evidências de abusos processuais e manipulações judiciais – como as revelações da Vaza Jato – poucos operadores do Direito demonstraram arrependimento. A elite jurídica brasileira segue cega ao que provocou: a deslegitimação do sistema, a corrosão do Estado de Direito e a exposição da república à ruína autoritária.
De 2022 até aqui, Lula resistiu. Mas é preocupante que ainda não tenha emergido nenhuma liderança que consiga unir amplos setores democráticos em torno de um projeto que vá além da resistência. A democracia brasileira permanece frágil, sem musculatura institucional para sobreviver a outro ciclo de desinformação massiva, sabotagem judicial e oportunismo político-midiático.
Nas redes sociais, o sadismo se normalizou. Os massacres em presídios, as chacinas policiais, o encarceramento em massa e o abandono das populações indígenas e quilombolas não geram mais indignação, mas curtidas. A desumanização é o motor da estabilidade artificial que sustenta as elites.
Não é por acaso que figuras periféricas da política, que falam para fora do centro institucional, estão ganhando terreno. Mas sem preparo, sem projeto. É aí que se corre o risco da história repetir seu ciclo: o vazio político ser preenchido por um novo Átila, um novo Stálin, ou um novo déspota tropical com inteligência tática, mas espírito autoritário.
A brutalidade, como mostram os impérios em queda, não é uma ferramenta de estabilização – é o estopim do colapso. A história não precisa se repetir como tragédia ou farsa. Mas para evitar isso, é preciso coragem para ler o passado e compreender o presente – duas virtudes que ainda faltam às elites brasileiras.
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