A Marcha da Insensatez: Como a Elite Está Jogando o Brasil no Abismo Democrático



Quando as forças políticas e econômicas que moldam os bastidores do Brasil escolhem um novo rosto para o poder, não o fazem por acaso — e, definitivamente, não o fazem pelo povo. Com Tarcísio de Freitas se consolidando como o nome da elite para 2026, uma guerra de narrativas se iniciou. Mas esta não é uma campanha eleitoral — é uma operação simbólica de desgaste da democracia.

Os ataques vêm de todos os lados, mas a trincheira principal é a velha imprensa, agora aliada a um novo e poderoso arsenal: as redes sociais desregulamentadas, onde a verdade é um detalhe inconveniente. Um exemplo escandaloso é o caso das fraudes no INSS. A investigação foi iniciada pelo próprio governo Lula, mas virou, na boca de colunistas cínicos e influenciadores oportunistas, uma arma contra ele. A lógica? Se é no seu governo que estoura, ele deve ser culpado. Não importa quem denunciou, importa quem sangra.

É o triunfo do cinismo, como já alertava Joseph Pulitzer quando dizia que uma imprensa cínica, superficial e sensacionalista produziria uma população ignorante e facilmente manipulável. Hoje, Pulitzer veria Nikolas Ferreira — garoto-propaganda da desinformação — ser tratado como gênio por veículos que já se disseram defensores da verdade.

A série The Newsroom pregava uma imprensa sem lado. Uma utopia. Não existe neutralidade. Mas há uma diferença gritante entre tomar posição e distorcer os fatos. O que vivemos hoje é uma normalização da mentira como estratégia política, e do escárnio como método. É o jornalismo de ocasião, onde moralismo se grita na praça enquanto, nos bastidores, se articula a destruição das instituições que sustentam qualquer democracia.

Esse fenômeno não é local. É global.

Nos EUA, Trump destruiu a integridade institucional de um país que, apesar de suas mazelas históricas, foi durante décadas um pilar de estabilidade global. Em Portugal, o partido de extrema-direita CHEGA, de André Ventura, avança sobre um terreno fértil de frustração social e econômica. E no Brasil, forças democráticas se enfrentam em meio a um bombardeio constante de fake news, teorias da conspiração e manipulações escancaradas.

Vivemos a ascensão de uma nova forma de autoritarismo: não militar, mas informacional. Um autoritarismo que não precisa fechar o Congresso, basta sabotá-lo. Que não precisa calar jornalistas, basta afogar o público em desinformação até que ninguém saiba mais em quem acreditar.

A esquerda, por sua vez, está acuada. Nos EUA, praticamente não existe. Na Europa, é domesticada pelo mercado financeiro. Na América do Sul, enfrenta uma guerra assimétrica contra forças que não jogam com regras. O resultado? Uma população desassistida, endividada, pagando alugueis exorbitantes, assistindo impotente à deterioração de sua qualidade de vida — e entregue ao ódio que a extrema-direita tão bem sabe capitalizar.

As instituições estão sendo corroídas de dentro. Não por tanques nas ruas, mas por narrativas virais, por mentiras ditas mil vezes em grupos de WhatsApp, por influenciadores pagos com verba pública para destruir a confiança na democracia. É uma guerra simbólica. E, como toda guerra, tem vencedores: os donos do dinheiro. Os mesmos grupos que sempre lucraram com a instabilidade que eles próprios alimentam.

Como sair disso?

Não tenho respostas fáceis. Mas sei o que não podemos fazer: normalizar o absurdo, silenciar diante da mentira, tratar a barbárie como “mais uma opinião”. A democracia não sobrevive apenas com votos. Ela depende de um mínimo de verdade compartilhada. E, hoje, isso está em ruínas.

A História não se repete, mas rima. Em 1945, sabíamos o que fazer. Hoje, nem sabemos por onde começar.

Boa noite — e boa sorte.

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